quarta-feira, 18 de julho de 2012

ELIS, NA HORA CERTA




Muitas pessoas conhecem aquela sensação, aquela vozinha dizendo para fazer algo, e enquanto não fizermos, não sossegamos. Aconteceu isso comigo, mas em relação à Elis Regina.

Há uns anos atrás, na minha adolescência, eu era (e continuo sendo) um apreciador voraz de música, onde ouvia amorosa e respeitosamente o que chegava a mim, independente de sua origem. Seja MPB, Heavy Metal, enfim... estaria conhecendo.

Até que alguma coisa me dizia: “Procure Elis Regina!” Parece até um papo de médium, quando psicografa algo do além. Mas, juro que foi bem assim. No entanto, eu conhecia algumas coisas do MPB por intermédio de meu pai e minha mãe, como Belchior, Milton Nascimento, Fagner e Guilherme Arantes. Mas só tinha escutado a respeito de Elis, há tempos antes, como “a maior cantora do Brasil”. E só.

Numa manhã de domingo, estava indo até a casa de meu pai, que morava em outro lugar, quando entrei em uma banca de jornal. E em um dos jornais à venda, tinha certa coleção de cd’s que vinham individualmente a cada domingo, juntamente com uma pequena revista sobre o artista. Elis era a artista da coleção naquele domingo, e num impulso automático acabei comprando o jornal e o cd. Contudo, só ouvi o disco no dia seguinte, pois queria dar a devida atenção ao meu “velho”, além de “meu querido” e “meu amigo”.

Ao ouvir o disco extraído de um show ao vivo em 77/78 – provavelmente em São Paulo – tive um impacto muito grande. Pois jamais tinha conhecido algo igual. Como ela podia cantar todas aquelas letras, com uma força que vinha das entranhas? Como ela colocava aquela suavidade toda, que nos dava a sensação de ser acariciado por uma mão quente? De onde vinha aquela graça e alegria, que ela injetava nos sambas que cantava impecavelmente? Mil perguntas tomaram meu cérebro enquanto ouvia, repetidamente, aquele disco – e outros em vinil que adquiri posteriormente. A curiosidade me fez ir à Biblioteca mais próxima e procurar um livro sobre ela. E achei: “Furacão Elis” de Regina Echeverria. Li o livro em uma semana e meia, onde sorri, me indignei e chorei muitas vezes, enquanto passava as páginas.


Certas perguntas que eu tinha não foram, e jamais serão respondidas, pois são coisas que ela levava dentro de si. Mas o necessário eu sei. Elis fez o que fez por amar tudo aquilo, por amar a música, e fazer de sua voz um ótimo veículo para transmissão de idéias e palavras que muitas pessoas estavam necessitadas de ouvir. Mais que isso, ela levou o sentimento às pessoas, através de seu canto versátil e definitivo.

Elis fazia tudo intensamente, sabendo exatamente o que (e como) queria, com coragem suficiente de dizer um “não” quando precisasse, e alegaria seus motivos na frente de qualquer um. Afinal de contas, ela não devia nada a ninguém. Para se ter essa postura, é preciso muita personalidade. Personalidade que a acompanhou, e a definiu absolutamente, na vida e na música. Mesmo tendo partido cedo, ela fez jus ao tempo que viveu, para tornar sua obra atemporal e definitiva.

Na minha humilde opinião, toda cantora que se preze deve aprender algo com Elis. Não estou dizendo para não se espelhar em outras cantoras. Não é isso! Tanto que amo o trabalho de muitas cantoras contemporâneas de Elis, como Nara Leão, Maria Bethânia e Clara Nunes. Essas que citei tem seu valor e lugar na música brasileira, de uma maneira particular. Mas Elis foi a que teve uma qualidade muito rara, até nas cantoras iniciantes de hoje: a ousadia. Tem muita gente fazendo o “mais do mesmo”, e não ousam, não tem coragem de fazer algo mais criativo. Não tem que ter medo de experimentar possibilidades, ou de achar que não vai ser legal, que as pessoas não vão gostar. Pelo contrário. O importante é ser autêntico, ser você mesmo e fazer o que acha certo. E muitas pessoas, com certeza, vão se identificar com o que você passa.


Com esse pensamento, eu procuro fazer meu trabalho de maneira íntegra, extraindo o melhor possível. Como músico, costumo dizer que Elis é minha principal inspiração. Bendita hora em que aquela “voz” soprou em meu ouvido. 











terça-feira, 27 de março de 2012

ENTREVISTA COM LÊ GUEDES!!!


Por Mael Júlia

Lê Guedes é um músico e compositor pernambucano, radicado em São Paulo há algum tempo, e onde constrói sua carreira musical cantando coisas simples, fundamentais e reflexivas, aliado ao bom gosto e com sonoridade calcada no MPB, devidamente registradas em seu primeiro disco "Um Arco-Íris na Estrada". Nessa entrevista exclusiva, descobrimos um pouco mais de sua trajetória, a vinda para São Paulo, seus parceiros de composição, curiosidades e sobre seu segundo trabalho, chamado "Evolução" com previsão de lançamento para final de Março.

-Faça uma pequena apresentação sua.
Lê Guedes: Eu me chamo Alexandre Guedes Ramalho. Nasci em 05 de Março de 1975, sou natural de Recife (capital de Pernambuco)mas fui criado em Olinda. Tive também uma boa passagem na cidade de Maceió, em Alagoas.

- Quanto tempo viveu em Maceió ?
Fui, com 9 anos de idade, para Maceió em 1984 e morei 8 anos. Tenho boas lembranças de lá! Em 1992, retornei para Olinda com 16 anos.

-Depois que voltou para Olinda, ficou quanto tempo por lá? E por quê você veio para São Paulo ? 
Não muito tempo, pois em Outubro de 1994, resolvi vir para São Paulo para ver meu pai que, na época, já estava morando aqui. Mas esse foi apenas um dos motivos, porquê já me despertava um desejo imenso de sair um pouco, de conhecer outros lugares. Vim sozinho, mas sempre com o violão nas costas.

-Você já pensava em ser músico, tocar por aí ?
Já vinha nascendo um grande interesse pela música, quando estava em Olinda, e comecei a aprender a tocar violão, que havia ganho de presente de minha mãe, ainda em Maceió! Certa vez, um tio meu havia ido passar férias na casa de minha mãe, e ele perguntou: "De quem é esse violão?" E minha mãe respondeu: "É do Alexandre, que deixou aí." Em seguida,  meu tio, retornando para Olinda, trouxe-me o violão de volta, e ele disse: "Você vai aprender a tocar violão!" Aí fui aprender.

-Quando começou a surgir as primeiras composições, sobre o que falavam ?
Nasceram as primeiras músicas com uns amigos que, também estavam aprendendo a tocar alguma coisa. Essas letras ainda existem e estão bem guardadas! Eram músicas bem simples... e com muitos erros de português. (risos)

- Como o quê, por exemplo ?
Ah, coisas de adolescente do tipo: " Somos dois adolescentes... precisamos entender por que desistiu. Não vá desistir agora, eu prometo fazer você feliz. Nosso amor é tão lindo e eu adoro o cheiro dos teus cabelos..." (risos) Meu Deus... era muito ruim. Isso está guardado debaixo de sete chaves. (risos) Mas, agora é diferente!

-E quais foram suas influências musicais ? O que te permitiu evoluir como músico e compositor ?
Bom... na verdade, sempre gostei de música. Principalmente, música brasileira. Mas aprecio muitos gêneros musicais, Rock, Pop, Xote, Reggae, Frevo, Ciranda, Samba... e por aí vai. Desde que tenha uma certa qualidade! Minha influência, talvez seja um apanhado de tudo isso. No meu primeiro Cd, toquei algumas baladas, gravei um reggae que tenho com Fernando Anitelli, tem outra canção em que tem uma presença sutil das  guitarras... Nesse segundo Cd, as guitarras estão mais presentes. Esse disco novo está bem Rock-pop. No terceiro, quero misturar algum frevo ou alguma ciranda talvez, e assim vai seguindo.


Lê Guedes e Vinicius Surian (ao fundo) 
 -Teve algum artista, ou algum momento, que foi fundamental para sua escolha de ser músico ?
Não digo, artista. E sim, a vontade de mostrar o que eu estava fazendo. Daí, resolvi seguir a carreira de músico e compositor, e poder cantar as minhas canções.

-Quais suas inspirações para compor ? O que te motiva ?
A inspiração vem do momento! Para mim, não funciona como uma regra. Minha motivação é de cantar e passar uma boa palavra adiante. Uma mensagem boa. Como muitas músicas estão sendo faladas na primeira pessoa, é claro que isso tem a ver comigo mesmo, com minha vida, minha história.


-Mas você sempre parte de uma idéia inicial ?
Não necessariamente! Na música “Arrisco”, por exemplo, a Maria Izilda me deu um texto, que não foi mudado nem uma vírgula, e a música ficou pronta. “Arco-Íris Diferente” já teve uma concepção. Na verdade, ela foi feita para a festa da escolinha da Maria Izilda, falando sobre a virada do milênio. Até que essa parceria se expandiu, quando a Nô Stopa (cantora e compositora) sugeriu acrescentar outras idéias, que se encaixaram com o perfil da música. “Como é Vital” foi inspirada em um momento vivido por mim. É assim que rola. No disco “Arco-íris” todas as músicas e as parcerias foram feitas de forma natural, sem a intenção de formar uma identidade, um rótulo.

-Você citou alguns parceiros, como a Maria Izilda e a Nô Stopa. Quem são seus outros parceiros ? E com quem você gostaria de compor ?
Maria Izilda é uma ótima compositora. Gosto muito das idéias, dos textos que ela apresenta junto com sua filha, Nô Stopa. Outro parceiro é um músico chamado Wesley Nóog. Tenho duas músicas gravadas em parceria com ele. Agora pensando em trabalhos futuros, tenho nomes de alguns compositores que possivelmente vou incluir no terceiro cd. É o caso da Carmem Lúcia, que é professora e escritora pernambucana, e daí, talvez, já saia um frevo, ciranda ou algo do gênero. Daqui de São Paulo, tem o músico e compositor Mael Júlia, que é um rapaz talentoso, e que está produzindo seu primeiro trabalho. Um grande amigo compositor chamado Edi Clapton, que conheci alguns anos atrás no bairro do Tatuapé. Além de manter os outros compositores. Mas, no momento, isso é uma coisa em construção, pois meu foco está virado para o meu novo cd, “Evolução”.

Lê Guedes e Nô Stopa: forças unidas em prol da música 

 -Os músicos que compõem a banda que te acompanha nos shows, são amigos de longa data, ou conheceu recentemente ?
Bom, eu gosto de ter a liberdade de trabalhar com muitos músicos, de variar as formações. Isso vai de acordo do tipo de trabalho que eu venha a desenvolver. Tem alguns músicos que já trabalham comigo há muito tempo, como há também músicos novos. Para o “Evolução”, vou contar com um novo guitarrista e um novo baterista.

-Quem ouvir o "Arco-Íris na estrada", perceberá uma característica de leveza que há nas músicas, e na temática da maioria de suas letras. Pois aborda muito o assunto da natureza como ela é, como se fossem cenas. O "Evolução" está muito diferente, ou ele tem certas coisas que remetem ao "Arco-Íris" ?
O novo Cd vem diferente sim, contudo, as digitais permanecem! Acredito que o disco esteja mais maduro. Isso não quer dizer, que o "Arco-íris” tenha sido um trabalho inferior. Pelo contrário, ele ficou tão bom quanto o "Evolução". Ainda mais que, a produção foi feita por mim e também pelo Pipo Pegoraro.

No estúdio, com o músico e produtor Pipo Pegoraro (à esq.) 

-O Pipo Pegoraro já é um músico ativo há um tempo com trabalhos interessantes. Como foi essa aproximação com ele, e o que ele acrescentou ao seu trabalho que você considera imprescindível ?
O Pipo é um grande amigo que a música me deu. Eu o conheço há, mais ou menos, 14 anos e lembro que nós frequentávamos o sarau do  Centro Cultural Elenko KVA. De lá conheci também, a Nô, o Wesley Nóog, o Fernando Anitelli, entre outros artistas de vários gêneros da  arte, todos com os mesmos sonhos, e isso aconteceu por volta de 1998. Mas só pude gravar meu primeiro Cd, 7 anos depois, com a produção só do Pipo. O segundo, fizemos a produção juntos!

-Como você vê a cena musical hoje em dia ? E o mercado fonográfico, você acha que ainda tem jeito, ou você acha que, com as ferramentas que se tem, como a internet, anula essa hipótese ?
Eu acho todos os caminhos válidos. A Internet ajuda bastante a divulgar o trabalho, de uma forma rápida, democrática e barata, acabando de certa forma com o monopólio das gravadoras. Hoje, você pode, muito bem, gravar a sua música, e ter a certeza de que vai fazer as pessoas ouvirem. Por outro lado, acontece que fica difícil se manter por muito tempo no mercado. Não por falta de qualidade do artista. E sim, porque hoje em dia, quem domina o mercado são os “medalhões” da música popular brasileira, e para quem está dentro do “esquema”, vai entender que eles tem mais importância do que os que estão na luta pelo próprio espaço. E muitos de nós, não tem condições de quebrar as exigências das gravadoras, rede de comunicação, empresários, etc.

Em show no CEU Vila Formosa em 2011 

 -Dos artistas, recentes ou não, quais você aprecia ?
Gosto muito do trabalho do Nando Reis, da Roberta Campos (que gravou com o Nando), da Bruna Caram... Tem uma galera nova e bacana nas rádios. Mas não tenho muita novidade de gosto e preferência.

-Antes de ser músico, você deve ter feito várias coisas. No que já trabalhou para ganhar a vida ?
Nossa... já trabalhei com coisas que não tem nada a ver comigo, como: ajudante de caminhão, empacotador de supermercado, guarda-volumes...

-É verdade que você já andou na rua vendendo livros ?
Sim. Isso foi em 1998, e tinha escrito um livro simples de poesia e saí vendendo nas mediações da Av. Paulista, na Vila Madalena, o que me ajudou muito no lado financeiro. Tive uma boa experiência com isso, aprendi muito, conheci muita gente. Mas não teve jeito. Acabei indo para a música, pois ela está no meu sangue.


 -O que você espera alcançar com seu trabalho ? Qual sua expectativa quanto à isso ?
Espero que as pessoas gostem, principalmente do novo disco, que foi muito sofrido, tanto no âmbito profissional, como no pessoal. Mas, mesmo com todos os obstáculos, ele está saindo, com o lançamento em breve. À respeito do que as pessoas vão ver, deixo aberto para cada um tirar suas conclusões, suas viagens, seus sonhos... Tudo que a música pode nos proporcionar. E a minha expectativa maior, é que eu tenha o meu espaço dentro da música popular brasileira.

-Onde você espera estar daqui a 5 anos ?
Daqui a 5 anos... Espero estar num patamar um pouco melhor. Como dizia Gonzaguinha: “Saúde e sorte”.


"Entrevista concedida à Mael Júlia, nos dias 16 e 19 de Março de 2012".

segunda-feira, 28 de março de 2011

FAGNER - Retrato (1995)


Matéria extraída do site oficial de Fagner.

Depois da bem-sucedida temporada de três dias no Canecão, no Rio de Janeiro (4 a 6 de novembro de 1994), como de costume Raimundo Fagner retornou logo em seguida ao Ceará para um período de férias. Iniciou o ano de 1995 com show, inaugurando o Centro de Convenções do Hotel Praia das Fontes, em Beberibe, acompanhado do violonista Nonato Luiz e do humorista Tom Cavalcante. No final do mesmo mês (dia 25) apresentou o show ''CABOCLO SONHADOR'' no Clube do vaqueiro, em Fortaleza, para em seguida seguir para o Rio de Janeiro para o ínicio das gravações do novo disco.

        Decidido a abandonar o Rio de Janeiro e fixar moradia em Fortaleza, Raimundo Fagner passou praticamente todo o ano de 1995 no Ceará. Em março, durante o lançamento do disco ''PATATIVA DO ASSARÉ, 85 ANOS DE POESIA'', no Theatro José de Alencar, participou do show cantando Vaca Estrela e Boi Fubá e Triste Partida em homenagem ao poeta. Em abril, foi a principal atração do ''I BAILE DA CIDADE'', no Náutico Atlético Cearense, abrindo as comemorações do aniversário de Fortaleza. Em junho retornou para o lançamento de ''RETRATO'', 19
º álbum solo de sua carreira. 

        Depois do malquisto álbum ''DEMAIS'', de 93 e do malsucedido ''CABOCOLO SONHADOR'', de 94, Raimundo Fagner voltou romântico em ''RETRATO'' . E o melhor: tirou antigas canções do baú, nunca gravadas, e embora com arranjos atualizados, lembra o Fagner do final dos anos setenta. Músicas como Acorda, Sorri, de Petrúcio Maia e Brandão, Toque a Madeira, também de Petrúcio Maia em parceria com Abel Silva, Rubi Grená, de Nonato Luiz e Sérgio Natureza eram presenças constantes nos shows. Acorda, Sorri foi gravada pela cantora cearense Teti em 1980 no disco ''MELHOR QUE MATO VERDE'', de Petrúcio Maia; Toque a Madeira e Rubi Grená foram gravadas por Guadalupe nos discos ''PRINCESA DO MEU LUGAR''
de 1980, e ''RUBI GRENÁ'', de 1987, respectivamente.

          O disco ''RETRATO''
lançado em junho de 1995, tem dez faixas e apenas três assinadas por Fagner e em parceria: Chorei Por Você, com Fausto Nilo, Melhores Dias, com Abel Silva e Distância com Guilherme de Brito. Além das citadas as outras faixas são O Amor Riu de Mim (Altay Veloso), Seca do Nordeste (Waldir de Oliveira e Gilberto Andrade), Baião da Rua (Nonato Luiz e Fausto Nilo) e Poeira (Luiz Bonan e Serafin C. Gomes).


  FAGNER DISSE: 
        ''Eu conheci o Guilherme de Brito na cidade dele, em Conservatória, no estado do Rio. Lá eles têm tradição de serestas e fizeram uma homenagem para mim que não esqueço: batizaram uma casa com o nome de uma música minha. Quando acordei, às 7h da noite, tinha uma multidão e não sei quantos violões cantando Mucuripe na janela do meu quarto. Eu não segurei a barra, chorei. Eu só conhecia o Guilherme como o parceiro de Nelson Cavaquinho e pedi: 'Velho, me salve.' Ficamos juntos até 4 h da manhã e combinamos uma parceria, que veio a acontecer meses depois com Distância . É talvez a minha música favorita desse disco.''
                                                              
Poucas pessoas escreveram sobre "RETRATO", que foi bem recebido pela crítica, e, depois de vários trabalhos lançados, essa foi a primeira vez que ninguém "meteu o pau" no disco. 

"RETRATO" possui a qualidade e o esmero, hoje raro em muitos trabalhos. Que ele sirva de exemplo !

Site Oficial de Raimundo Fagner

terça-feira, 8 de junho de 2010

LÊ GUEDES - Um Arco-Íris Na Estrada

 

SUTILEZA CERTEIRA !

No mercado da música independente, existem diversos trabalhos que se destacam, por si só, em termos de qualidade de produção e composição. "UM ARCO-ÍRIS NA ESTRADA", primeiro trabalho do cantor e compositor pernambucano Lê Guedes, é uma ótima surpresa, pois o disco se desenrola de maneira sutil, e faz com que o ouvinte preste atenção no atrativo que, muitas vezes, se perde devido à excessos de produção: a simplicidade aliada a boas doses de sofisticação. Boa parte disso, se deve à fusão de influências musicais que passeiam pelo MPB, Folk e sutis elementos de Pop-Rock, temperadas com letras simples, porém poéticas.

Felipe Pegoraro, o Pipo, grande amigo e incentivador de Lê Guedes, produziu "Arco-Íris" e participa da gravação tocando guitarra, baixo, violão, teclado, bandolim e percussão, juntamente de Tatá Muniz na bateria, e do próprio Lê, que toca violão e, obviamente, canta em todas as faixas.

Suas canções abordam questões sociais, o amor e a natureza de maneira bem peculiar. "Arrisco" faz uma analogia entre as montanhas, que "são verdes ao longe", as ondas do mar "que se quebram e o que parecia manso, deita agitado", e os sentimentos mais profundos, onde "pra se ler um coração, é preciso olhar bem perto, a luz dos olhos acender, clarear o peito". E essa é uma parceria de Lê com Maria Izilda, que também fizeram "Arco-Íris Diferente" com a cantora e compositora Nô Stopa.

O amanhecer, o Beija-Flor e a chuva, tem lugar em "Aquela Gota", que tem um belo coro de vozes, e em seguida, a certeza de um futuro novo, regado pelas mudanças constantes em "Arco-Íris Diferente". Nô Stopa e Jú Carvalho emprestam suas belas vozes nessa canção e em "Estrada".

"Como é Vital", que poderia ser facilmente interpretada por Nando Reis e os Infernais, fala da trajetória de um pássaro aos olhos de alguém que percebe como é importante cuidar de tudo que tem vida e do ar: "Olhei você e vi como é vital, o ar pra respirar".

Fernando Amitelli, do Teatro Mágico, aparece como co-autor do reggae "O Navegante", sobre aqueles que ganham a vida no mar, como pescadores e marinheiros. "Abstinência" é sobre a esperança de unir as pessoas, a fim de termos, política e ecológicamente, uma vida melhor.

Canção de amor, "Estrela" diz como "acreditar nos sonhos, no amor e vencer o impossível", e traz Pipo fazendo um belo solo de guitarra que acrescenta muito à canção. A poesia e um sofisticado arranjo, permeiam "Rosa-dos-Ventos", na minha opinião, uma das mais belas canções do disco.

Lê percorre a "Estrada" que "é longa e dura" a fim de "intensificar todo momento ávido de amar" E, por fim, "Tudo Azul" canta o dar e receber amor, com um arranjo intimista com violões e belas frases de bandolim, mais uma vez executados por Pipo.

O músico pernambucano de Recife está em fase final de seu segundo trabalho entitulado "EVOLUÇÃO". Mas com certeza, ele já deixou atestado que há um pote de ouro, que não está no final do Arco-Íris, nem quando acaba a estrada. E, sim, nesse disco e nas belezas da natureza, da vida e do amor.
Salve Lê Guedes!!!


Abaixo, músicas de Lê Guedes

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terça-feira, 25 de maio de 2010

GEORGE ISRAEL - Distorções do Meu Jardim (2007)





JARDIM ELÉTRICO !

Acertou a mão!
É tudo que se tem a dizer de George Israel ao ouvir o segundo disco solo do saxofonista do Kid Abelha. Gravado ao ar livre no jardim de sua casa e em estúdio, "DISTORÇÕES DO MEU JARDIM", em resumo, é um disco pop de qualidade invejável ! 

"A Noite Perfeita", faixa de abertura, parceria com Leoni (que faz vocal e toca baixo), fala sobre uma garota que se prepara para curtir a balada e desiste na última hora deixando oportunidades passarem.

Com Alvin L, "Alguém como você" cativa pela simplicidade, seguida de "Trailer", que tem arranjo legal de metais. "Como você já é", balada de George com Suely Mesquita, fala sobre amar uma pessoa sem querer mudá-la, e "Muda" aborda as mudanças em geral. E ainda homenageia Cartola no clássico "As Rosas não falam" numa versão "Balada-Rock-Vintage" com direito a uma citação incidental de "I want you (She's so heavy)" dos Beatles, imortalizada no famoso álbum "Abbey Road" (aquele da capa em que eles atravessam a rua). 

Abrindo seu baú de parcerias inéditas com Cazuza, junto com Nilo Romero, "Mina" fala sobre a "garotinha" que conheceu antes e a reencontra totalmente crescida. Psicodelia-pop em "Chão de Jardim", parceria com Marcelo Camelo, que também canta e toca violão, e "Eu Posso falar Mais Alto" (mais uma com Alvin L) com participação de "Os Britos", seu projeto paralelo com Guto Goffi e Rodrigo Santos, membros do Barão Vermelho. 

Jorge Mautner dá as caras em "Curados ao Sol de Copacabana" dedicada aos avós de George, Ruth e Frederico. "O céu nos protege", parceria de George, Guto Goffi e Dadi, traz seu filho Leo Israel tocando bateria, e "No Amor que vem" que fecha o disco.

"DISTORÇÕES DO MEU JARDIM" é uma ótima referência para quem quer conhecer seu lado criativo fora do Kid Abelha, além de encontrar peculiaridades como no seu trabalho de estréia "4 Letras", que, em breve, será analisado detalhadamente. 

Muita gente sabe da frutífera parceria de Cazuza com Roberto Frejat, mas foi junto a George que o "Exagerado" compôs canções que, até hoje, trazem certa relevância em alguns temas como "Brasil" e "Burguesia". Essas parcerias e outras inéditas serão registradas na voz de George em um álbum que terá participações de Marcelo D2, Elza Soares e do próprio Cazuza.
Agora é só esperar para ver, ou melhor, ouvir !
Salve George !

Clique aqui para ver o site oficial de George Israel

MARIA GADÚ - Maria Gadú (2009)



SINGULARIDADE E BELEZA !
(De Ponta a Ponta)

Uma bela surpresa, que agitou o cenário da música brasileira em 2009, tem 22 anos e nome: MARIA GADÚ ! 
 
Essa paulistana viu sua vida de pernas pro ar quando assinou contrato com a Som Livre em menos de cinco meses que chegou ao Rio, e viu seu trabalho ser apreciado por monstros sagrados da MPB como João Donato, Milton Nascimento e Caetano Veloso. Tanto no Cinemathèque (onde foi o show de lançamento) como no disco (que leva seu nome), Maria Gadú mostra um disco surpreendente que une bom gosto e repertório ímpar, aliado pela sua voz suave, que virou marca registrada graças à insistentes execuções de "Shimbalaiê" na novela Global "Viver a Vida" de Manoel Carlos. 

Ao lado de músicos de qualidade como baixista Dadi (ex-Cor do Som, Caetano Veloso, Tribalistas) e o percussionista Marcelo Costa, Maria Gadú destila composições suaves e com influência brasileira acentuada, logo nas primeira faixas. 

"Bela Flor", o lindo samba "Altar Particular", a melodia de "Dona Cila", dedicada (assim como o disco) à sua avó, e a já citada "Shimbalaiê" onde ela assume o violão e assina a autoria dessas canções e de "Escudos", a suingada "Laranja" que tem Leandro Léo (vocal), Cesinha (bateria) e um solo de baixo respeitoso de Arthur Maia, "Lounge" e "Encontro".
Destaque também para a releitura de "Ne me quitte Pas" de Jacques Brel, famosa na voz de Maysa, "A História de Lily Braun" de Edu Lobo e Chico Buarque, parte da trilha sonora do musical "O Grande Circo Místico"(1983) cantada originalmente por Gal Costa. 

Belas novidades como "Tudo Diferente" de André Carvalho, com um arranjo de violino de Nicolas Krassik, e a genial interpretação para "Linda Rosa" de Gugu Peixoto (da banda Playmobille) e Luis Kiari. 

A "cereja do bolo" que ficou para "Baba" (Sim, aquela mesma!!!) da Kelly Key, numa versão apenas voz e violão, comprovando a teoria de que as canções que julgamos ruins, são na verdade, falhas de interpretação de quem as grava. Falha essa que não se encontra nesse disco, que causará certo impacto ao ouvinte, e depois de mais algumas audições, só a impressão de que esse disco já rolava no cd player de sua casa há muito tempo. 

Parafraseando Chico, Gadú "disse adeus e já foi com os seus pr'uma turnê", por sinal bem sucedida. Long live to Maria Gadú. Belo disco de ponta a ponta! Pronto, falei !!!

Site oficial de Maria Gadú